Por toda a América Latina, pequenos agricultores estão tendo sucesso ao levar seus produtos diretamente aos consumidores após a pandemia de COVID-19. De acordo com uma pesquisa recente administrada por donatários da IAF, 56% das famílias de agricultores comercializam seus principais produtos agrícolas sustentáveis por meio de feiras e outros locais de venda direta. Outro ponto de venda popular, com 36%, foi a venda por assinatura da Agricultura Apoiada pela Comunidade ou “CSAs”, nas quais os consumidores assinam para receber alimentos produzidos e entregues pelos agricultores regularmente. Com menos importância para o marketing da agricultura sustentável, aparecem as lojas especializadas (15%), restaurantes (8%) e supermercados (6%). A maioria das famílias entrevistadas concorda que a pandemia mudou a importância dos mercados locais. Desses, 85% disse que os mercados locais se tornaram mais importantes, enquanto apenas 15% disse que perderam importância.
Canais de Venda Utilizados por Pequenos Agricultores
Essas descobertas vêm de um projeto de pesquisa apoiado pela IAF e liderado por agricultores que entrevistou 113 famílias de agricultores no Brasil, Equador, El Salvador, México e Paraguai. Oito organizações donatárias da IAF coordenam esse projeto, buscando indicadores do significado da agricultura sustentável para as famílias em termos ambientais e socioeconômicos. Usando a plataforma digital LiteFarm, os agricultores têm documentado informações sobre suas lavouras, colheitas e práticas agrícolas.
Conectando agricultores e consumidores para benefício mútuo
A Agricultura Apoiada pela Comunidade (CSA)
A Agricultura Apoiada pela Comunidade (CSA), ou compartilhamento de culturas, recebe esse nome pelo que faz: permite que os membros da comunidade apoiem os agricultores através da compra direta de seus produtos. Os clientes compram uma assinatura de produtos agrícolas, que geralmente chegam semanalmente em uma caixa contendo vegetais e frutas frescas e algumas vezes outros produtos de valor agregado, como mel ou geleia.
Os benefícios para os agricultores das CSAs incluem:
- Antecipação no recebimento de pagamentos, no início da safra, o que permite um melhor planejamento para a próxima colheita e também o investimento de lucros na produção agrícola;
- Previsão de vendas antes do início da estação;
- Estímulo à inovação, visto que o produtor rural passa a conhecer melhor a demanda e tem a oportunidade de experimentar novos produtos dentro de um mercado garantido;
- Redução do desperdício, já que os agricultores colhem apenas o que sabem que será vendido.
Os benefícios para os clientes das CSAs incluem:
- Compra de vegetais e frutas locais, de origem conhecida, frescas, da época, orgânicos, de alta qualidade e de custo relativamente baixo;
- Possibilidade de experimentar vegetais e frutas diferentes sem fazer muito esforço para selecioná-los; e
- Conhecimento de como os agricultores cultivam esses alimentos.
Tanto os mercados de agricultores quanto as CSAs removem os intermediários do processo de venda de alimentos, permitindo que os agricultores aumentem seus lucros e tenham contato direto com os consumidores, o que proporciona aos agricultores a oportunidade de saber o que seus clientes gostam de comprar. Já que 77% dos agricultores entrevistados estão se relacionando diretamente com os consumidores por meio das feiras livres e da compra por assinatura, decidimos entender melhor esse relacionamento.
Principal benefício das relações diretas entre agricultores e consumidores
Para a maioria dos agricultores, a confiança inerente ao relacionamento se destaca. Por exemplo, um agricultor de El Salvador, em suas próprias palavras, observou que o contato direto “ajuda muito porque o consumidor sabe como os cultivos estão sendo manejados e sabe o que está consumindo.” A comunicação direta com os consumidores também pode influenciar as decisões de gestão e produção. Um agricultor orgânico do Paraguai respondeu, em suas próprias palavras, que “há maior pressão sobre o produtor e também exige que sejam produtos de boa qualidade. Eles são direcionados para o que produzir de acordo com os pedidos.”
CSAs no Brasil e no Paraguai
Cinco famílias de Major Gercino, em Santa Catarina, no sul do Brasil, combinaram suas produções para suprir a demanda de cerca de 85 famílias consumidoras em Florianópolis, a cerca de 100 quilômetros de distância. Suas caixas de CSA são compostas de vegetais da época, tubérculos, frutas, ervas e temperos. Além disso, os consumidores podem pedir produtos extras que são disponibilizados a cada semana. As famílias entregam cestas básicas em lugares públicos como universidades, escolas e locais de trabalho.
João Augusto Batisti, um jovem agricultor responsável pela logística de montagem e entrega das caixas de CSA em conjunto com seu pai, afirma que as CSAs garantem preços mais justos: “As [caixas de CSA] ajudam muito a gente. Eu acredito que se não fossem as caixas, a nossa venda seria bem menor. Ou até poderia ter venda, mas o preço seria mais baixo para todos os produtores do grupo. Ela é uma vantagem para todo mundo aqui.” Mesmo assim, seu grupo de agricultores está pensando em abrir seu próprio mercado em 2023. Desde o início da pandemia, as